Sempre fora feliz. Sonhara, vivera a todos os momentos de sua vida com tamanha intensidade como se estivesse esperando pelo momento derradeiro. Tivera muitos amigos, todos estavam com ela nos momentos bons, sorrindo e dançando, comendo e bebendo, peregrinando de festa em festa e de bar em bar. Mas agora onde estavam aqueles que antes eram parte de si?
Não sabia responder. Se sentia só. E sua solidão era inabalável, sempre estivera só, mas apenas agora notara isso. Ela lembrava com saudade dos tempos em que podia correr na areia da praia, nadar em meio às ondas do mar e jogar tênis com as amigas. Agora ela estava reduzida ao seu computador e seu leito, o leito de morte?
Novamente ela não sabia. Tudo o que ela necessitava era de alguém, alguém que lhe trouxesse vida e lhe desse a sua própria vida. Fazia dois anos que o médio havia diagnosticado uma grave doença degenerativa em seu coração, aos poucos ela foi abandonando tudo o que sempre gostara de fazer. Os amigos, ou aqueles que se diziam amigos, a abandonaram ao primeiro sinal de fraqueza de seu organismo.
Nunca fora tão materialista, nunca havia percebido o quanto era apegada a este mundo e por fim, nunca torcera tanto pela morte de alguém. Pois, tudo o que ela precisava era que alguém morresse para que ela sobrevivesse. Quão egoísta ela se sentia por pensar e agir desta forma. Mas seu instinto de sobrevivência era maior, talvez se ela tivesse forças para se levantar do leito, mataria com suas próprias mãos, se isto a mantivesse neste mundo. Mas os batimentos diminuíam e com eles o brilho de seus olhos.
Foi numa manhã chuvosa de sexta-feira que ela partiu. Não se sabe para onde. Mas ela foi embora, sem provar as verdades da vida, sem viver, tão jovem e tão lúcida. Com tanta vontade e desejo de ter um coração, mas ninguém morreu para que ela ficasse neste mundo.