domingo, 29 de março de 2009

CACHAÇA

“Veio a mim como uma cachaça certeira!”

Você já quis tanto alguém que pensou estar enlouquecendo? Feliciana sim. Logo ela, tão sóbria em tudo o que fazia na vida, enlouquecendo por outro ser humano. Ela que lutava pelo desapego e pelo amor livre, estava amando.

Não sabia exatamente o que significava isso, mas era como um vício, algo que toma conta de sua alma, um desejo superior, o qual fazia com que fosse difícil dominar os instintos e as palavras.

Mas desde o instante que o vira, há muito, sua imagem voltava a mente a deixando em uma eterna sensação de embriaguez. Olhos, boca, cabelos...Hum...o cheiro, tudo era tão nítido e atrativo para ela. Como um copo alcançado sobre o balcão do bar.

Ele era a sua cachaça. “É, há pessoas que são como um vício, uma cachaça certeira”, Feliciana sempre tentava se convencer. Ela necessitava de sua dose alcoólica diária, necessitava provar seus beijos e embriagar-se em seus olhos, olhos cor de canavial.

A garota tentava resistir ao vício... Mas ele era infinitamente mais forte do que ela e sua resistência. Por isso passou a viver um dia de cada vez, com suas lembranças de um passado deliciosamente doce, como uma taça de champanhe. E trazia consigo as esperanças de um futuro ardente, como cachaça.

Como uma alcoólatra ela vive pelas ruas da cidade buscando por sua dose diária de cachaça.


a Ele.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Fascínio

Era uma sala escura, com um bocado de cada década vivida por sua dona estampado nos móveis, utensílios e badulaques. As cortinas bloqueavam toda e qualquer luz que lutasse para entrar no aposento. Ela estava lá, sentada e olhava fixamente para o nada. Rebeca, era esse o seu nome, sempre ficava fascinada como o nada era capaz de prender a atenção de um ser humano.

Se seus olhos se voltavam para o nada, seus pensamentos navegavam em mares distantes e conhecidos de longa data. A mulher, agora em estado inerte, tinha desejos, muitos dos quais não deixava vir à tona, sempre se preocupou demais em ajudar aos outros, deixando de pensar em si própria. Assim, o tempo foi passando e deixando marcas em sua pele e em sua alma. Tornara-se uma pessoa que não vivera seus sonhos. Logo ela que tinha encontrado o mais sublime dos sentimentos, o deixara fugir, escapar por entre seus dedos.

Rebeca nunca fora explicita, sempre escondeu tudo de todos, pois pra quê mostrar suas dores ao mundo? Era melhor sorrir e relevar os impasses que surgiam no dia a dia.Ela era intensa, de uma intensidade não explícita. Por isso gostava do doce e do amargo, de tudo o que a vida lhe proporcionava. Estava sempre buscando não se deixar abater, mas há momentos que sempre tocam as pessoas. Momentos que elas olham para o nada.

No que ela pensava nesse instante, ali sentada, inerte em uma sala escura e mofada? Pensava que gostaria de voltar no tempo, para assim simplesmente viver ou reviver. Não sabia definir ao certo que termo usar, mas queria retomar os dias em que Ele era a sua inspiração diária, sua dor, sua felicidade, o motivo por abrir seus olhos todos os dias pela manhã.

Mas máquina do tempo existe apenas na literatura de Camões ou mesmo em Carlos Drumond, os poetas a inventaram mas não deixaram o mapa para se chegar nela.

Assim, quando percebeu já era, de certa forma, tarde demais o tempo havia passado e a única coisa que sobrara da beleza da juventude fora o brilho em seus olhos castanhos. Tão intensos como outrora, eles ainda mostravam um grande desejo de felicidade. Ali sentada, tudo o que aquela frágil anciã queria era voltar e responder a pergunta que lhe fora feita a décadas atrás com as palavras: "Sim, eu te amo! Menos que teus pais, mas muito mais que os demais".
Mas já era tarde e seus olhos se fecharam para sempre naquela imagem, a mais feliz de toda a sua vida.




contribuição de Jozieli Wolff

quarta-feira, 11 de março de 2009

Fugaz

Tudo aconteceu ali. Tão rápido, fugaz. Seus corpos se encontraram. O destino os uniu. Naquele instante, sem querer e sem ter conhecimento dos fatos, ele apossou-se de sua alma. Ela era sua, seguiria com ele todos os caminhos tortuosos de uma existência a dois.
Já ele, deseja intensamente que ela se esqueça de tudo o que haviam passado juntos, afinal tudo era passado. Nada mais do que uma imagem solta no tempo, sem perfume e sem sentimentos. Era isso o que ele sentia enquanto ela vivia um momento de total comunhão.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Pecados desapegados

Feliciana acordara feliz, algo que era raro antes de sua filosofia do desapego. Porém frequente agora, tornara-se fácil encontrá-la com bons ânimos, isso se devia ao fato de que ela não pensava em seu passado, pois deixara de se arrepender do que fazia ou dizia aos demais. Pois pessoas e suas opiniões são desnecessárias. Ela passou a sentir cada segundo do seu dia e como sentia. Sentia o ar que entrava em seus pulmões, as pulsações de seu coração, o gosto do doce e do amargo, os orgasmos e o prazer de fumar um cigarro em meio a lençóis.

A Pecadora

Feliciana fora criada em uma família muito cristã, que seguia as regras ditadas pela Bíblia e pelos padres e bispos e enfim todos que faziam parte da igreja. Quando criança frequentou a catequese, foi coroinha, participou da liturgia e dos grupos de jovens. Mas, como toda garota inocente do interior que chega a cidade grande, ela deixou seus princípios religiosos de lado. Então, com o transcorrer do tempo os desejos desapegados de Feliciana transgrediram todas as regras morais impostas pela sociedade e pela igreja. Ela se tornara uma mente maquiavélica, que planejava os mínimos detalhes de seu próximo passo. Assim ela decidiu que iria abusar e experimentar todos os sete pecados capitais. Seu primeiro passo foi inteirar-se quais eram e qual seria a melhor maneira de aproveitá-los.

Após sua breve pesquisa, Feliciana elencou os sete pecados: gula, avareza, inveja, ira, soberba, luxúria e preguiça. Traçou seus planos e tratou de colocá-los em prática.

Gula

A gula passou a fazer parte quase que diariamente de sua vida. Feliciana comia como se o mundo fosse acabar em comida, tudo era bom, saboroso e satisfazia sua fome. Apenas não sabia definir qual era a sua fome. Seria realmente de comida, amor, amizades ou apego? Não. Não tinha tempo para pensar nisso, apenas praticava o desapego.

Avareza, Inveja e Ira

Pecados que andam juntos. Feliciana ganhava bem como a boa jornalista que era. Enganava-se quem pensava que por trás de toda aquela quietude houvesse uma mulher dócil e calma. Ela era ferrenha e lutava pelo que queria – isso após o desapego, claro – então passou a cobiçar todo o dinheiro que pudesse ganhar e invejava a todas as oportunidades que perdia para os demais. Ela não se orgulhava tanto de suas atitudes ligadas a avareza e a inveja, tanto que foram os pecados menos praticados por Feliciana. Por esse motivo o sentimento da ira chegou ao seu cérebro, coração e membros. O sentiu em todo seu corpo, era algo que não estava acostumada a sentir e odiava-se por isso, estava essencialmente irada.

Soberba

Feliciana conseguira tudo o que muita gente gostaria de ter, dinheiro, bom emprego, amores – muitos amores, isso fez dela alguém auto-suficiente, necessitava apenas de seu corpo e sua mente para praticar o que mais gostava – o desapego.

Luxúria e Preguiça

Hum...os preferidos de Feliciana. Para ela esses pecados eram inseparáveis e deliciosos. Pois quem não gosta de sexo? E qual a pessoa que não adora ficar até tarde na cama, embaixo de cobertores? E melhor, unindo-os, dormindo até mais tarde de conchinha, hum? Por isso Feliciana pecava, adorava confessar que estava pecando em luxúria. Permanecia na cama até o último instante possível, parou de fazer academia e qualquer outra atividade que lhe exigisse muito fisicamente, pois tomara gosto pela preguiça. Ah! Você que deve estar imaginando que Feliciana ficou uma gordinha seguindo a gula e a preguiça...se engana. A luxúria a manteve em forma;)

terça-feira, 3 de março de 2009

Beleza ou Inteligência???

O que você prefere? Mariah sempre preferiu a inteligência, discordando assim da versão do poeta de que “beleza é fundamental”. Qualidades físicas podem ser de certa forma, imprescindíveis, porém elas passam e o que fica é aquilo que as pessoas realmente são.
Você pode amar alguém pela firmesa do seu bumbum, testura da pele ou pela cinturinha de violão. Mas um dia o bumbum cairá, as rugas aparecerão deixando a pele ressecada e cheia de marcas, a cintura tão fina de outrora, aumentará e quem sabe aparecerão alguns pneus ao seu redor.
E então o que você fará? Sairá a procura de alguém que consiga lhe encantar por tantos anos novamente e que tenha as mesmas características que você admirava no ser amado?
Provavelmente não. Pois o tempo chega para todos. Não apenas para seu objeto de afeição. E é ele, o tempo que nos faz perceber quão idiotas somos ao trocar dias de conversa construtiva e inteligente, por horas de beijo na boca e desfilar pelas ruas da cidade com o (a) menino (a) mais cobiçado do momento. Mas e depois que os beijos acabam o que resta? Nada.
Por isso concordo com Mariah, a beleza não é fundamental, já inteligência é imprescindível.

domingo, 1 de março de 2009

Dor

Amor rima com dor. Isso porque amar dói. E muito.
Dói porque você se doa para alguém.
Dói porque as vezes alguém não sente o mesmo.
Dói pelo desejo exacerbado de tomar conta da vida do outro. Pelo desejo de possuir integralmente corpo e alma do ser amado.
Dói pelo simples prazer que o amor tem em molestar a consciência dos seres humanos.
Amar dói. Mas simplesmente não conseguimos viver sem esta dor que não tem remédio. Ou melhor, tem. O único antídoto existente é a possessão. Quando se possui o objeto amado a dor se esconde, mas erra aquele que acredita que ela foi embora. Ela está sempre lá, a espreita, esperando uma fenda para vir à tona e voltar a doer.
Amar dói, mesmo assim nos atiramos ao amor sem sequer titubearmos. Sentimos a dor do amor pela simples convenção de vivermos em sociedade e precisarmos demonstrar sentimentos hipotéticos a todos.
Quão simples seria não sentirmos o amor e suas consequências?
Amar dói, mas faz parte do inferno de provações humanas rumo ao céu.