quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O vácuo.

Tardes vazias.

Noites sem lua.

O silêncio que domina.

Assim se traduz tua ausência.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Tributo à morbidez

Todos já pensamos em nos matar um dia, afinal é preciso que alguém morra.
Virgínia pensava na morte todos os dias. Inúmeras foram as vezes que imaginara seu corpo estendido sobre a mesa e envolto em uma mortalha. Muitos foram os impulsos de tirar sua própria vida, pois de nada adiantava estar viva se estivesse presa na pior de todas as prisões, a de sua mente. Há muito ela vivia em um universo paralelo, há muito ela deixara de ver as pessoas como seres reais, para ela, humanos eram como os rascunhos de suas páginas amassadas.
Sempre quisera casar, ter filhos e uma casa com jardim. Mas os filhos nunca vieram. Então, foram substituídos por seus livros e suas músicas, o marido se tornara um pobre coadjuvante na maior de todas as suas obras, a vida. Ele estava sempre ali, solícito e disposto, como um cão de guarda. A cada amanhecer esperava a volta da Virgínia que conhecera na juventude, sua docilidade, seu carisma e sua simpatia. Mas ao vê-la abrindo os olhos, percebia que não mais veria a doce jovem de seus sonhos.
Os olhos de Virgínia eram o reflexo de sua prisão, por isso seu olhar era tão perturbador. Eram turbilhões de pensamentos, vozes, frases, imagens distorcidas e sensações inexplicáveis que surgiam em sua mente e a faziam ter uma fixação pela morte, pois ela não conseguia explicar o porquê estava viva. Talvez por covardia. Talvez por coragem. Não. O que a mantinha viva eram as pessoas, as mesmas pelas quais alimentava crescente desprezo. Todos vivem por alguém – pensava em segredo.
Desejava veementemente que sua respiração enfraquecesse até o instante em que seu coração parasse de bater. Ela queria sentir a morte, a última de todas as suas experiências. Um dia voltarei ao lugar de onde vim – acreditava. Mas as vozes respondiam que ela não sabia de onde viera. Não importava, afinal nada mais importava para ela, ao menos era nisso que acreditava.
Sua impotência perante a vida era transcrita em seus livros. Estes eram um misto de sentimentos e ideias, tudo o que Virgínia sentia estava em suas palavras. Por mais que os personagens mudassem de país, de história de vida e de forma de pensar, todos a representavam de alguma forma no passado, no presente ou no futuro que sonhara ter. Porém, todas as suas obras tinham algo em comum, a morte. Virgínia via e apresentava a morte a seus leitores como uma passagem para outro plano. Um plano no qual a morte significava liberdade.
Virgínia invejava aos mortos, mas entendia, afinal alguém tem que morrer e um dia chegará a sua vez.