“Várias são as maneiras de se justificar a maldade”, pensava enquanto redigia a última matéria do dia. Fora um dia longo e exaustivo. Ela pensava apenas em ir para casa e se desligar do mundo, de tudo e todos. Como seria bom regressar aos tempos de infância, sem obrigações, estresse e ter a maldade tratada como infantilidade. Agora, como uma adulta, maldade era só maldade. Mas e o que pode ser considerado como maldade? “E será que sou tão má assim?”. “Não!” – respondia antecipando seu próximo pensamento.
Não fora má. Fora sincera. “Como a sinceridade consegue pegar as pessoas em cheio e conduzi-las para o lado desejado”. Manipuladora, isso sim é que fora. Conduziu tudo para o seu caminho, evitando acontecimentos que lhe seriam desagradáveis, constrangimento e futuro sofrimento.
“Ela estava avisada, it’s my, lhe falei. Depois tudo foi consequência” – sorri malvadamente. Voltando ao foco, o que é mesmo maldade?
Maldade é roubar, matar, humilhar, bater, xingar, enfim prejudicar aos outros. Ela não havia prejudicado ninguém, pelo contrário, tinha feito pessoas felizes e, sinceramente, poderia ter felicitado muitas mais.
Mas se ateve ao seu desejo. “Como fico cega quando quero algo” – raciocinou consigo. Ao foco, ao foco. A maldade é um reflexo do abandono da alma. A solidão faz as pessoas más. Situações limites as fazem más. “Com certeza estava em uma situação limite, era isto ou o sofrimento. Prefiro isto”.
Bateu seus dedos no teclado de seu computador. Digitou a última palavra. Ponto final. Está pronta e, afinal, não ficou tão má assim. Exatamente como ela.