quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Da série Feliciana, a infeliz

Feliciana por infelicidade do destino recebera esse nome. O qual nunca combinara muito com ela ou seu estado de espírito. Ela era definitivamente infeliz. Mas algo mudara. Após suas crises existenciais, os chifres colocados pelo namorado - o qual definitivamente não era digno de dor e desespero por parte de Feliciana - ela decidira que iria viver.
Viver? Mas ela já não estava viva? Em partes. Seus olhos se abriam todas as manhãs com a luz do sol invadindo seu quarto, respirava o ar impuro da cidade, caminhava pelas ruas, se alimentava e cumpria com todas as funções fisiológicas básicas para a sobrevivência de um humano. Aí está a chave do mistério, Feliciana apenas sobrevivia.
Mas naquela manhã florescente de primavera ela prometera a si mesma que iria viver. Para isso ela aproveitaria todas as oportunidades da vida, abandonaria todos os velhos padrões e regras que ela estabelecera para si mesma. Seguiria a mais antiga de todas as máximas conhecidas: "Viva o hoje como se fosse o último dia". No entanto, ela estava tão acostumada com a sobrevivência insignificante que levava há anos que não via maneira de abandoná-la.
A luz no fim do túnel se revelou em uma conversa de lotação. Feliciana tinha o hábito de ouvir o que os outros falavam no ônibus, sempre achara isso interessante, pois nos quinze minutos que passava dentro do veículo escutava as conversas mais peculiares possíveis.
A REVELAÇÃO
Uma moça loira, não muito magra e nem bonita falava a uma morena que em matéria de beleza se comparava a primeira:
- Aprendi a ser desapegada. - Disse a loira.
- Desapegada? - pergunta uma surpresa ouvinte - Logo você que sempre gostou de tudo tão seu.
- Pois é, não é o desapego exatamente das coisas materiais, mas sim dos sentimentos. Aprendi que não devemos gostar de ninguém além de nossa mãe e de nós mesmos.
- Você não acha isso um tanto... egoísta? - questiona a embasbacada morena.
- Não. Nem um pouco. Cansei de me apegar a pessoas que não merecem, pois como diz Oswald de Andrade "Só a antropofagia nos une", nós nos aproximamos dos demais apenas pelo interesse no que eles podem nos ofertar, então porque deveríamos nos apegar a eles se todos são descartados assim que nossos propósitos são cumpridos?
A amiga ficou pasma com o modo de pensar da outra, nunca julgara que passasse grandes debates filosóficos por sua mente, mas balançou a cabeça assentindo que a amiga estava certa e em seguida ambas desceram do ônibus, já esboçando o início de uma nova discussão.
O IMPACTO
Após essa conversa, Feliciana ficou excitadíssima. Achara a fórmula para largar tudo. "Vou praticar o desapego" - disse para si mesma. A partir daquele instante, Feliciana tornou-se feliz. Desapegou-se de todas as lembranças de um passado distante, desapegou-se das pessoas insignificantes para seus interesses, passou a beijar por desejo e não por paixão. Esqueceu o que significava amor, paixão e quaisquer outra palavra que pudesse levar a concluir tais idéias sentimentais entre duas pessoas com intuito sexual. Afinal não era apenas o sexo que importava? Esta foi outra descoberta de Feliciana, o sexo. Apenas pelo tesão ele tornava-se mais atrativo ainda.
Até que enfim ela encontrara a felicidade que lhe estava destinada desde seu nascimento através de seu nome. E quem lhe proporcionou isso? Todos, ninguém e acima de tudo ela mesma. Feliciana descobrira que o poder da felicidade estava em suas entranhas e não na convivência com os demais. Finalmente ela encontrara seu par perfeito, nunca estivera tão completa - o desapego a pegou de vez e não a deixou jamais.
O conselho de Feliciana? Pratique o desapego. Seja feliz e não se importe com o que os outros pensam do seu estilo de viver, pois eles não interessam para você.

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