domingo, 15 de fevereiro de 2009

Reedição da Quadrilha de Drumond

Se Drumond tivesse vivido a década de noventa e presenciado a revolução das comunicações, a extinção de um grupo de risco para a Aids, a banalização do corpo humano e de suas idéias, A Quadrilha – poema tão famoso – seria assim:
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Bangu I, Teresa para o calçadão de Copacabana,
Raimundo morreu com Aids, Maria virou carola,
Joaquim foi assassinado e Lili luta pela legalização de seu casamento homossexual com Ana Clara, que não tinha entrado na história.


Ao leitor, as explicações dos acontecimentos:

João morava no morro Santa Marta no Rio de Janeiro e, como a maioria dos meninos de sua idade e situação financeira, decidiu trabalhar com o tráfico de drogas. Teve sucesso na carreira em pouco tempo tornou-se chefe. E traficante chefe do morro sempre tem direito as “minas” mais formosas do lugar, mesmo encarcerado em um presídio de segurança máxima. Dessa forma, logo se esqueceu da pobre Teresa, que se tornou prostituta, é portadora do vírus HIV e não sabe. Atualmente ela cobra R$ 20,00 por um boquete na beira mar.
Raimundo, o grande amor da infância de Teresa, não soube controlar sua libido e casou-se muito jovem. Negro, fogoso e bonito do jeito que era, possuiu muitas mulheres pelo morro, tantas que não sabe nomear quem lhe transmitiu Aids, gonorréia e sífilis. Os últimos instantes de sua vida foram passados em uma unidade de tratamento intensivo do SUS relembrando o seu amor por Maria.
Oh, Maria! Eras tão bela! Tão gentil, amável, curiosa e educada. Seu maior defeito era crer no que os outros lhe falavam, dessa maneira quando a Igreja Evangélica do Recato chegou ao morro ela foi uma das primeiras a conhecer a doutrina pregada pelo pastor Pedro de Deus. Não demorou muito para que ela se tornasse uma carola e decidisse que a virgindade era o maior de seus bens. O que ela não sabe ainda é que virá a falecer de velhice aos noventa e cinco anos, VIRGEM e será enterrada em um caixão branco para demonstrar seu recato.
O jovem bonito, esguio e de olhar perturbado que fora a paixão da adolescência de Maria chamava-se Joaquim. Na época em que nasceu sua família era rica, porém quando ele contava cinco anos de idade seu pai – famoso banqueiro brasileiro – foi preso e sua mãe – perua aos extremos – se viu obrigada a mudar para o morro que lhe causara tanto medo nos tempos de riqueza. Joaquim era dono de uma alma frágil, sensível ao sofrimento alheio, por esse motivo não agüentava ver tanta indiferença e maus tratos para com os moradores do morro e resolveu desafiar João, o chefe. Uma semana depois Joaquim foi encontrado boiando no córrego que cortava a favela ao meio, ninguém sabe ou viu o que aconteceu com ele.
Lívia era assim que se chamava a moça conhecida por Lili. Filha de uma pernambucana com um cearense, teve educação rígida e tradicional apesar da pobreza em que sua família vivia. Os valores morais e da família sempre estiveram presentes desde sua infância sofrida, quando seus pais saíram do Nordeste rumo ao Rio de Janeiro em um caminhão pau de arara. No entanto, a menina cresceu. E seu interesse por outras meninas também aumentou, tanto que resolveu assumir um relacionamento com Ana Clara, uma moça que era assumidamente lésbica e tinha má fama no morro Santa Marta.



Por que disso tudo?

Meu caro leitor a essas alturas você deve estar se perguntando o porquê desta quadrilha ser tão trágica e as avessas. Eu lhe explico.
Primeiramente os valores não estão mais impregnados na sociedade atual como eles estavam quando nossos pais vieram ao mundo e decidiram se casar e constituir família.
Segundo vivemos a era do livre arbítrio e das escolhas, porém não são todos que sabem o que escolher.
E por último: o amor é um personagem de conto de fadas e existe somente no reino da fantasia.






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