sábado, 21 de janeiro de 2012

Mais.


Não quero mais.

Chega de abraços sem afetos

Beijos sem gosto

E insanas noites de bebedeira.

Não quero mais mãos

Que não se encaixam às minhas

Palavras ditas

Apenas por dizer.

De hoje em diante

Renuncio a existência vazia

De noites escuras

De amores inventados.

Renuncio a companhia de todos

Todos aqueles que não me fazem bem

Todos os que não servem

Que não cabem em minha vida.

De hoje em diante

Tomo as rédeas de meu corpo

E de minha mente

Farei apenas o que gosto

O que sinto

E o que penso.

E penso que não quero mais uma existência vazia

Cheia de ânsia e agonia.

Quero apenas o domingo da alma

E sua calmaria.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Dois dedos

Venha comigo!

Nosso tempo é curto demais para ser desperdiçado

Não pense, apenas viva.

Apenas me beije.



“Homens bons de cama abrem seu sutiã com apenas dois dedos – diz estudo”. Em letras garrafais, esta frase chamava a atenção de qualquer mulher assídua do portal. Ali havia dicas de moda, cabelo e maquiagem, sexo, viagem e todo e qualquer assunto que pudesse ser direcionado às mulheres. Por isso o portal era o preferido de Felícia.

Felícia, jovem mediana (não feia e nem bonita), de classe média e de média inteligência. Talvez tudo fosse um tanto quanto medíocre em sua vida, nunca fora excelente em nada, seus sonhos não se realizavam e sua vida amorosa era um desastre total. Costumava abandonar projetos no meio do caminho e era abandonada por todos que demonstrava interesse. Apesar de tudo ainda achava que esta era a vida que merecia, talvez tivesse que pagar por algo que fez em outras vidas, outros mundos. Então ela simplesmente se adaptou a sua existência mediana.

Mas a manchete do portal realmente mexeu com Felícia, não exatamente pelo conteúdo, que cá entre nós não era uma maravilha, mas sim porque a fez pensar em quantas vezes realmente conseguiu se envolver com alguém ou mesmo sentir alguma coisa. Após horas a fio ruminando a respeito concluiu que nunca tivera a satisfação de ser realmente de alguém, apenas relações medianas e passageiras, pois em vida de Felícia nada era estável ou ficava por muito tempo, tudo era muito efêmero, esporádico.

Sobre a teoria dos dois dedos então, ela nem sequer tinha o que falar, pois os homens medianos com os quais havia se envolvido jamais tentaram tirar o seu sutiã, quem dirá com dois dedos - “que absurdo!” – pensava enquanto andava pela casa recolhendo os vestígios de uma noite solitária.

Decidiu que abandonaria aquela existência mediana, os sonhos não conquistados e todos os amores não correspondidos. Viveria com a ânsia de quem não sentiu o sol do verão em sua pele e nem o cheiro das flores da primavera. E foi com essa ânsia que saiu de casa, para compras, afinal vida nova exige aparência nova.

Dia de shopping, salão de beleza e perfumaria. Nascia uma nova Felícia, a fase mediana parecia ter sido deixada para trás, olhava-se no espelho e nem ao menos se reconhecia, era outra mulher e estava ansiosa por mostrar ao mundo em quem ela tinha se transformado. E foi com um sorriso no rosto que ela foi atingida por um ônibus de transporte urbano. Como em toda a sua vida até então, nada sentiu ou viu, apenas partiu.