quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Dois dedos

Venha comigo!

Nosso tempo é curto demais para ser desperdiçado

Não pense, apenas viva.

Apenas me beije.



“Homens bons de cama abrem seu sutiã com apenas dois dedos – diz estudo”. Em letras garrafais, esta frase chamava a atenção de qualquer mulher assídua do portal. Ali havia dicas de moda, cabelo e maquiagem, sexo, viagem e todo e qualquer assunto que pudesse ser direcionado às mulheres. Por isso o portal era o preferido de Felícia.

Felícia, jovem mediana (não feia e nem bonita), de classe média e de média inteligência. Talvez tudo fosse um tanto quanto medíocre em sua vida, nunca fora excelente em nada, seus sonhos não se realizavam e sua vida amorosa era um desastre total. Costumava abandonar projetos no meio do caminho e era abandonada por todos que demonstrava interesse. Apesar de tudo ainda achava que esta era a vida que merecia, talvez tivesse que pagar por algo que fez em outras vidas, outros mundos. Então ela simplesmente se adaptou a sua existência mediana.

Mas a manchete do portal realmente mexeu com Felícia, não exatamente pelo conteúdo, que cá entre nós não era uma maravilha, mas sim porque a fez pensar em quantas vezes realmente conseguiu se envolver com alguém ou mesmo sentir alguma coisa. Após horas a fio ruminando a respeito concluiu que nunca tivera a satisfação de ser realmente de alguém, apenas relações medianas e passageiras, pois em vida de Felícia nada era estável ou ficava por muito tempo, tudo era muito efêmero, esporádico.

Sobre a teoria dos dois dedos então, ela nem sequer tinha o que falar, pois os homens medianos com os quais havia se envolvido jamais tentaram tirar o seu sutiã, quem dirá com dois dedos - “que absurdo!” – pensava enquanto andava pela casa recolhendo os vestígios de uma noite solitária.

Decidiu que abandonaria aquela existência mediana, os sonhos não conquistados e todos os amores não correspondidos. Viveria com a ânsia de quem não sentiu o sol do verão em sua pele e nem o cheiro das flores da primavera. E foi com essa ânsia que saiu de casa, para compras, afinal vida nova exige aparência nova.

Dia de shopping, salão de beleza e perfumaria. Nascia uma nova Felícia, a fase mediana parecia ter sido deixada para trás, olhava-se no espelho e nem ao menos se reconhecia, era outra mulher e estava ansiosa por mostrar ao mundo em quem ela tinha se transformado. E foi com um sorriso no rosto que ela foi atingida por um ônibus de transporte urbano. Como em toda a sua vida até então, nada sentiu ou viu, apenas partiu.

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