quinta-feira, 12 de março de 2009

Fascínio

Era uma sala escura, com um bocado de cada década vivida por sua dona estampado nos móveis, utensílios e badulaques. As cortinas bloqueavam toda e qualquer luz que lutasse para entrar no aposento. Ela estava lá, sentada e olhava fixamente para o nada. Rebeca, era esse o seu nome, sempre ficava fascinada como o nada era capaz de prender a atenção de um ser humano.

Se seus olhos se voltavam para o nada, seus pensamentos navegavam em mares distantes e conhecidos de longa data. A mulher, agora em estado inerte, tinha desejos, muitos dos quais não deixava vir à tona, sempre se preocupou demais em ajudar aos outros, deixando de pensar em si própria. Assim, o tempo foi passando e deixando marcas em sua pele e em sua alma. Tornara-se uma pessoa que não vivera seus sonhos. Logo ela que tinha encontrado o mais sublime dos sentimentos, o deixara fugir, escapar por entre seus dedos.

Rebeca nunca fora explicita, sempre escondeu tudo de todos, pois pra quê mostrar suas dores ao mundo? Era melhor sorrir e relevar os impasses que surgiam no dia a dia.Ela era intensa, de uma intensidade não explícita. Por isso gostava do doce e do amargo, de tudo o que a vida lhe proporcionava. Estava sempre buscando não se deixar abater, mas há momentos que sempre tocam as pessoas. Momentos que elas olham para o nada.

No que ela pensava nesse instante, ali sentada, inerte em uma sala escura e mofada? Pensava que gostaria de voltar no tempo, para assim simplesmente viver ou reviver. Não sabia definir ao certo que termo usar, mas queria retomar os dias em que Ele era a sua inspiração diária, sua dor, sua felicidade, o motivo por abrir seus olhos todos os dias pela manhã.

Mas máquina do tempo existe apenas na literatura de Camões ou mesmo em Carlos Drumond, os poetas a inventaram mas não deixaram o mapa para se chegar nela.

Assim, quando percebeu já era, de certa forma, tarde demais o tempo havia passado e a única coisa que sobrara da beleza da juventude fora o brilho em seus olhos castanhos. Tão intensos como outrora, eles ainda mostravam um grande desejo de felicidade. Ali sentada, tudo o que aquela frágil anciã queria era voltar e responder a pergunta que lhe fora feita a décadas atrás com as palavras: "Sim, eu te amo! Menos que teus pais, mas muito mais que os demais".
Mas já era tarde e seus olhos se fecharam para sempre naquela imagem, a mais feliz de toda a sua vida.




contribuição de Jozieli Wolff

6 comentários:

Unknown disse...

Uaaauh! Q emocionante... belo romance...
Vira uma escritora primaa! hehehe

bjos

Unknown disse...

Lindo e doce...porém triste, o amor é triste.

Inez disse...

Adorei o conto, é emocionante e muito bem escrito.

JuANiTo disse...

É , bela mensagem!
Vamo vicer e aproveitar da melhor forma o presente!
E tentar fazer dele o maximo para que não seja motivos de arrependimentos ou desgotos..

Té+!

http://sentimentomediano.blogspot.com

TIAGO SÂNZIO disse...

adorei! poesia pura.
e é claro que fui visitar o blog Jozieli Wolff... Belíssimo também!

Fã do Raulzito? Grande homenagem!

bjo!!

Jozieli disse...

Quando você disse que havia se inspirado em mim, não imaginava que minha tristeza pudesse ser tão bem descrita.
Lembra quando eu disse sobre os aplausos em pé? Então...
(L)